
Seu candidato representa os seus interesses? Uma ferramenta revolucionária pretende ajudar o eleitor a responder essa pergunta. Idealizado pelo romeno Andrei Roman, Ph.D. em Ciência Política pela Universidade de Harvard, e pelo brasileiro Thiago Costa, Ph.D. em Matemática Aplicada também pela instituição americana, o Atlas Politico é uma ferramenta online acessível à população para conhecer e monitorar a atuação dos políticos brasileiros.
A ferramenta traz um ranking de deputados e senadores, mapa do congresso e um tópico sobre as eleições 2014. Na parte de “Eleições 2014” o eleitor tem a oportunidade de pesquisar o seu candidato e obter importantes informações, por exemplo, se o candidato é ficha limpa ou não, quais processos o mesmo responde e qual o status do processo. Também é possível verificar quem são os principais doadores da campanha.
“O Atlas surgiu com o objetivo de trazer mais informações sobre os políticos do Brasil para diminuir a distância deles da população, para que o eleitor possa analisar e o mais importante acompanhar os políticos eleitos”, explica Andrei.
Convidado pelo coordenador do Centro de Justiça e Sociedade, professor Daniel Vargas, Andrei esteve na FGV DIREITO RIO no último dia 29 de setembro, para apresentar para um grupo de professores e pesquisadores a ferramenta e explicou como tudo começou.
A ideia surgiu durante das manifestações de junho de 2013. Segundo Andrei, muito do que as manifestações mostraram foi contra duas décadas de pesquisa de ciência politica e sobre o sistema politico brasileiro, que apontava para a estabilidade e fortalecimento do partidarismo.
“A minha conclusão foi de que o Brasil está passando por uma grande crise de representação que não será resolvida somente nas ruas. Os mesmos políticos muitas vezes criticados nos protestos poderão se reeleger. O jeito de fazer financiamento de campanha não mudou”.
O secretário executivo do CJUS, Evandro Sussekind ficou bem impressionado com a ferramenta.
“O Atlas Politico tem uma grande importância porque desmistifica informações básicas de como os partidos se comportam, permitindo a transparência de forma simplificada”.
Ao final da apresentação todos aplaudiram Andrei e o professor Daniel Vargas parabenizou e agradeceu a presença do Andrei. “Lembro-me desde o inicio quando eles começaram a idealizar essa plataforma, eu achei muito interessante, mas o resultado final me surpreendeu e com certeza também surpreendeu a muitas outras pessoas aqui presentes. Muito obrigado!”.
Se você ainda não conhece o Atlas Político, acesse www.atlaspolitico.com.br e conheça um pouco mais sobre os seus candidatos.
Entrevista - Andrei Roman
Qual foi a motivação para a criação do Atlas Político?
A ideia de criar o Atlas surgiu durante as grandes manifestações do ano passado. A minha leitura sobre aquelas manifestações é que, antes de qualquer pauta específica, elas aconteceram por conta da acentuação de uma profunda crise de representação política. Quantas pessoas no Brasil se sentem realmente representadas por algum partido político? Quantas confiam na competência e no compromisso dos deputados ou senadores do Congresso Nacional? Junto com a fragmentação muito grande do sistema partidário, assistimos hoje em dia também a uma convergência do discurso e dos posicionamentos ideológicos de uma forma que facilita cada vez mais generalizações do tipo: "todos os políticos são iguais, falam a mesma coisa, prometem e não cumprem, e roubam o mesmo tanto." O que a gente percebeu em junho do ano passado é que ao mesmo tempo que as manifestações apontavam para problemas extremamente graves, a chance de elas resultarem em soluções sustentáveis para estes problemas era extremamente pequena, já que elas não iam poder fazer essa crise de representação desaparecer. Então é preciso pensar formas que aproveitem a maior conscientização que os protestos trouxeram para lidar de fato com este problema fundamental, que na minha visão é a principal raiz de todos os males.
Como é que podemos eleger políticos melhores?
Eu acho que a resposta é bastante óbvia: reconhecendo que eles não são iguais e tentando diferenciar aqueles que são competentes, atuantes, e comprometidos dos que não são; diferenciar aqueles que têm ficha limpa daqueles que não têm; diferenciar aqueles que respeitam as suas promessas, os seus eleitores, e os seus próprios partidos dos que não fazem isso. O desafio então é de fazer essas diferenciações. Temos agora uma nova eleição: milhares de candidatos, discursos parecidos, gastos de campanha enormes. Não é nada fácil orientar-se em um contexto desse. Foi por isso que decidimos criar o Atlas. O Atlas traz dados essenciais sobre milhares de políticos, desde o momento da campanha (quem os financiam) até a trajetória de cada um, os posicionamentos políticos e os projetos que eles defendem, e a atuação deles uma vez que foram eleitos. Não é somente que somos a fonte que disponibiliza o maior volume de dados sobre os políticos. O nosso diferencial é que fazemos isso através de indicadores altamente relevantes e de visualizações intuitivas.
Quais novidades ele proporciona em termos de transparência?
Criamos o primeiro "Mapa do Congresso", que mostra qual é o posicionamento político de todos os deputados e os senadores. O mapa é construído a partir de um algoritmo que considera não o que eles dizem mas como eles votam. Criamos também o primeiro ranking verdadeiro dos políticos brasileiros. Quando digo ranking verdadeiro quero dizer que é o primeiro ranking somente os primeiros 20 melhores ou os primeiros 100 melhores congressistas, como todas as iniciativas passadas que escapam de esta forma da responsabilidade de construir e defender uma metodologia rigorosa. Ninguém vai ficar chateado com este tipo de iniciativa: os "melhores" vão agradecer e os outros não precisarão preocupar-se. O que a gente criou é uma metodologia que remove qualquer suspeita de viés ideológico para mostrar quem são os políticos mais competentes em defender um certo projeto político, independentemente do conteúdo deste projeto. Tem ainda duas outras coisas de importância muito grande: mostramos quem são os maiores financiadores de campanha de qualquer um dos mais de 20 mil candidatos nessas eleições como também um perfil geral das receitas de campanha (quanto vem de empresas, quanto vem de partidos, quanto vem de pessoas físicas, etc.). Também mostramos quais são os processos no qual qualquer candidato está sendo investigado, com links para os tribunais onde estes processos estão em trâmite. O financiamento de campanha e brechas no ficha limpa continuam sendo grande desafios para a democracia brasileira, pois eles ferem os princípios mais essenciais da justiça e da igualdade de chances. Mas o eleitor acabou de ganhar uma arma poderosa: o acesso fácil e imediato a informações que possam proteger ele de uma escolha superficial, feita na falta do pleno conhecimento sobre o candidato.
Quais foram os desafios que enfrentaram em termos do processo de coleta de dados?
Existe hoje no Brasil uma abundância de dados sobre quase qualquer coisa e a política não faz exceção disso. É a realidade do novo mundo da hyper-conectividade. O problema as vezes não é a falta de dados mas o “data noise” - saber como separar o que é realmente relevante de uma quantidade enorme de informações inúteis. Então o nosso maior desafio não foi tanto achar os dados mas entender o que era realmente importante. O segundo desafio foi de natureza técnica - cruzar bases de dados que não tem identificadores únicos, consertar erros, e fazer a análise. O terceiro desafio foi de apresentar tudo de uma forma inteligível mas ao mesmo tempo empolgante para todo mundo. Mas os nossos desafios não acabaram. Talvez os maiores estejam pela frente. Queremos que essa plataforma cresça.
Vamos dizer que estou indecisa sobre quem deveria ganhar meu voto nessas eleições. Como deveria usar o Atlas Político?
A grande maioria dos políticos brasileiros que concorrem um cargo eletivo importante já tem uma trajetória política bastante vasta. Então a nossa recomendação seria de começar por aí. O Ranking 5D pode ser um ponto de partida para descobrir políticos responsáveis. Mas não necessariamente os valores e os posicionamentos políticos deles correspondem com os seus. Então o Mapa do Congresso pode clarificar algumas dessas dúvidas, pelo menos para aqueles candidatos que sejam deputados federais ou senadores neste momento. Os perfis individuais dos candidatos e dos congressistas contêm mais informações que podem ser úteis. A nossa recomendação, porém, é de usar o Atlas como um primeiro passo e não como o fundamento principal para o seu voto. Use o Atlas para descobrir bons políticos, mas verifique depois se eles têm realmente um compromisso com as causas que são mais importantes para você.
Como foi criado o Mapa do Congresso?
Utilizamos o algoritmo Poole e Rosenthal. O posicionamento de cada político no mapa vem do padrão das votações no Congresso: o algoritmo agrega todas as votações dos vários projetos de lei, determina quem vota com quem, acha as dimensões principais que explicam como os votos estão sendo agrupados e oferece no final uma pontuação em cada uma dessas dimensões para cada político. Os resultados para o Congresso brasileiro revelam que a principal dimensão que explica o padrão das votações é o ordenamento governo – oposição: existem deputados e senadores que claramente fazem parte da base governista, outros que fazem oposição, e também muitos que as vezes votam junto com o governo e outras vezes junto com a oposição. A segunda dimensão revelada pelo algoritmo é a orientação ideológica esquerda-direita. Um fato interessante sobre a aplicação do algoritmo no caso brasileiro é que as duas dimensões (governo-oposição e esquerda-direita) não se sobrepõem como é o caso na maioria dos outros sistemas democráticos, eles não são uma e a mesma coisa. Isso releva uma certa fraqueza ideológica do sistema (já que partidos com orientações ideológicas diferentes viram aliados), mas ao mesmo tempo confirma a relevância da separação esquerda-direita. Essencialmente, sempre quando não podemos explicar o padrão de votação de um projeto de lei por uma separação nítida entre o governo e a oposição a alternativa mais provável naquele caso é o posicionamento ideológico dos congressistas.
A quantidade de usuários está dentro da expectativa de vocês? As pessoas estão usando?
Não está pois infelizmente não conseguimos suficiente divulgação por parte dos maiores jornais e redes de TV do pais. Temos em torno de 15 mil acessos diários, o que considero como sendo muito pouco. Tem muitos jornais e repórteres locais que estão apontando para o Atlas, mas em termos de matérias com alcance nacional ainda temos muito pouco e bem abaixo das nossas expectativas, apesar dos nossos esforços neste sentido. É um fato que confesso não entender muito bem. Já que a mídia fala o tempo inteiro sobre o Ficha Limpa, por que não divulgar o site que mostra todas as informações sobre os processos nos quais os candidatos estão sendo investigados? Já que o financiamento de campanha e tao problemático e o TSE dificulta o acesso aos dados de doação de campanha, por que não divulgar o site que mostra quem financia as campanhas dos candidatos? Já que a maioria dos congressistas hoje em dia são ilustres desconhecidos, por que não divulgar o único site que mostra os posicionamentos políticos de cada um, as bancadas que eles integram, o número de proposições e de discursos, a trajetória de filiação partidária, e tantas outras informações? Infelizmente, acho que e só nas próximas eleições que vamos conseguir crescer o acesso a essa plataforma suficientemente para que ela possa fazer alguma diferença. E falo isso com bastante tristeza.