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Conexão Eleitoral: Mentir ou morrer: a guerra da propaganda eleitoral

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Uma análise de Eduardo Muylaert
Conexão Eleitoral: Mentir ou morrer: a guerra da propaganda eleitoral

O Brasil está às vésperas de ir às urnas escolher seus novos governantes. A eleição presidencial promete ser uma das mais disputadas dos últimos tempos. As pesquisas indicam um cenário totalmente em aberto. Não é possível dizer nem mesmo quais candidatos vão ao segundo turno. Esse cenário de incertezas tem despertado preocupações e mudanças na estratégia nas campanhas dos três principais candidatos.

O professor associado da FGV DIREITO RIO, Eduardo Muylaert, escreveu a análise "Mentir ou morrer: a guerra da propaganda eleitora" no Blogo Conexão Eleitoral, uma parceria entre o jornal O Estado de S.Paulo e a FGV DIREITO RIO. Essa "guerra eleitoral" inundou o horário político e os debates entre os candidatos em busca dos tão preciosos votos. Nessa batalha entre "mentir ou morrer", o eleitor "é quem vai dirigir a cena do duelo final".

O que podemos esperar de “espetáculo” nos próximos dias, ou seja, quais temas devem pautar os futuros ataques entre os candidatos?

A campanha presidencial esquentou muito, pois a reeleição da presidente Dilma, que parecia inevitável, foi posta em cheque. Na política, como na vida, um imprevisto às vezes muda tudo. Não por acaso, os anglo-saxões chamam nosso conhecido ato fortuito, ou força maior, de Act of God. Ameaçada a continuidade do partido no poder, o que se viu foi uma reação muito forte, tentando “desconstruir” (é assim que se fala agora) a adversária que ameaça o trono. A discussão dos programas, em tese, dá sono no eleitor, pois são todos muito parecidos. Nenhum candidato define bem, na verdade, até por estratégia, o que é possível fazer de seu programa e com que recursos e prioridades. Aí surgem os argumentos tão conhecidos da retórica, o ad terrorem, que procura jogar com o medo do eleitor e embotar o raciocínio, o ad hominem, (seria melhor falar em argumento ad feminem?), ataque à pessoa para desviar o foco, e à falácia, palavra que vem do latim enganar, raciocínio falso com aparência de verdadeiro. Questões de pequena relevância, assim, às vezes monopolizam os debates, enquanto as verdadeiras são camufladas. A experiência das últimas eleições mostra claramente que quem agride o adversário pode ganhar alguns pontos num primeiro momento, mas depois é rejeitado por muito mais pessoas, perdendo posição.

Do ponto de vista ético, como você classifica os ataques que andam acontecendo entre os presidenciáveis?

Considero lamentáveis, do ponto de vista ético, os ataques entre candidatos, da forma como vem ocorrendo. Apontar fatos é lícito e desejável, mas ilações hiperbólicas, totalmente absurdas, por vezes provocam um estrago muito grande. A presidente Dilma vem conseguindo, até agora, desvincular sua imagem do escândalo da Petrobras, que se anuncia como o maior da história política do Brasil, alimentando com recursos desviados mais de 50 personagens dos partidos de sustentação da própria presidente Dilma. Mas os ataques à ex-senadora Marina Silva, procurando conectar sua amizade e aliança política com a educadora Neca Setúbal, figura muito respeitada, com uma conspiração dos banqueiros para tomar de assalto o Banco Central e, com isso, tirar a comida do prato do povo, é um acinte. Mas um acinte que funciona como ameaça para quem não conhece a questão da autonomia, e nem sabe para que serve o Banco Central. Funciona, mas pode ser um tiro pela culatra, pois o eleitor não gosta de ser feito de tolo.

“Na hora do vale tudo, o bom senso e a ética ficam em suspenso, como primeiras vítimas da batalha eleitoral”. Em sua opinião, como os presidenciáveis devem se portar?

Os debates na televisão tem mostrado que o eleitor tende a simpatizar com o candidato que fala o que pensa. Estamos todos cansados de jingles, slogans, frases decoradas, leitores (mesmo os bons, nem todos são) de teleprompter. A expressão facial do candidato revela mais do que o que ele diz. Acho que seria não só desejável, mas útil também para os candidatos, descobrir o que realmente pensam e contar para nós, singelamente. Vai ser preciso aumentar o preço da gasolina? Isso não é bem recebido, mas é melhor do que uma mentira deslavada.

"No meio do tiroteio cerrado, está o eleitor que, depois de tantas promessas falsas, de tantas decepções, aprendeu a desconfiar”. O que o eleitor pode fazer para identificar um ataque pessoal de uma critica a um projeto de um dos presidenciáveis?

A adesão do eleitor tem um lado emocional, o ser humano acaba se alinhando numa linha mais repressiva ou mais liberal e procurando eco nos candidatos. É o caso espantoso do deputado Paulo Maluf que, depois de ter sua candidatura indeferida pela lei da ficha limpa, e de ter sua reputação manchada por inúmeros processos, denúncias, e até uma ordem internacional de prisão, continua sendo um dos candidatos com mais votos em São Paulo, segundo as pesquisas. Suas teses são as mesmas de sempre, e não conferem com a realidade. Ele insiste em que no seu governo punha a Rota na rua, mas o fato é que, quando entregou o cargo, a mesma Rota tinha pouquíssimas viaturas rodando, algumas em péssimo estado, a Polícia Militar era muito mal remunerada, e a segurança estava em frangalhos. Seu eleitor sabe disso, ou desconfia, mas quer votar em alguém que seja contra os bandidos e contra os direitos humanos, vai eleger um avatar.

“Bem ou mal, é ele quem vai dirigir a cena do duelo final”. Em sua opinião, quais respostas e convicções o eleitor precisa ter para decidir seu voto e, assim, dirigir a cena do duelo final?

Muita gente só decide, mesmo, o voto dentro da urna. O eleitorado está dividido em duas correntes. Os dilmistas vão votar na presidente porque são petistas, ou dilmistas, e querem que ela continue. Acontece que o que caracteriza a democracia é a possibilidade de alternância no poder, a meu ver altamente saudável. Por mais que digam que pode entrar um(a) candidato(a) despreparado(a) chega uma hora em que é preciso experimentar a mudança. O importante é que seja gente séria, bem intencionada e que tenha uma história, que é um indicativo de seu futuro comportamento. Quem quer uma nova opção se divide entre Aécio, e seu PSDB, e Marina, com a sua turma da Rede, o PSB e os novos aliados, que já fazem fila. A pesquisa influi muito, muitos querem estar no barco do(a) vencedor(a), ganhar a eleição presidencial, já que se decepcionou na Copa do Mundo. E há o voto útil, votar em quem possa propiciar a mudança. No fundo, o eleitor sabe, ele sente, e na eleição presidencial, especialmente, ele sempre dá o seu recado.

O senhor conhece o site Atlas Politico? Qual a sua opinião sobre o site? É uma boa opção para o eleitor consultar antes de decidir seu voto?

Acho fantástico qualquer site que faça uma análise do desempenho parlamentar. Na eleição proporcional, é muito mais difícil a escolha de candidatos. As figuras se diluem no Congresso, muito eleitor não se lembra em quem votou na última eleição. Para o Senado, a coisa é mais fácil, são figuras de destaque. Mas, na Câmara dos Deputados, fora as figuras histriônicas, temos hoje muito poucos heróis, em quem nos vejamos representados. Por outro lado, um(a) presidente da república sem apoio no Congresso tem sua tarefa muito dificultada. Assim, acho que é importante para o eleitor escolher uma pessoa de bem, que se identifique com seu ideal humano e político,  e alinhar essa escolha com a de seu candidato a presidente, para ajudar o futuro governante a formar uma base de apoio sem os métodos escusos que temos visto e lamentado. Boa eleição para todos.

Veja o artigo no blog Conexão Eleitoral.


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